segunda-feira, 11 de julho de 2011

Imortalidade

Nessa noite,
Eu ouço suspiros de quem não quer crescer

De alguém só,
Que grita em silêncio
De um anjo,
Que corta as próprias azas

Ser celestial que me alimenta
E me puxa sempre quando penso em sair

Me mostra quem sou
Que não te deixo morrer

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Fotografia



Vi as luzes da cidade refletidas em ti
A fosforescência deitada na tua face,
O clarão da máquina fotográfica,
E neon que transformou o corpo em arte

Teu rosto iluminado me permitiu enxergar
E tua pele falou comigo
Pela primeira vez sem redonda mise-en-scéne,
Transbordando verdade

Você diz
Preciso do teu nada,
Preciso do teu agrado sem futuro,
Da tua falta de promessas

Eu penso
Dois seres que se amam e se deixam no meio da noite
Mais para duas do que para menos,

E depois saio
Querendo levar comigo teus ombros
Outros membros e teus batimentos,
Vestígios de uma vida qualquer

Termino por levar apenas tua imagem
Retrato do nosso trágico romance com fim

quarta-feira, 2 de março de 2011

Infância


O dia hoje foi preenchido com uma arrumação geral na casa.

Eu fui desembrulhando memórias impressas em papeis antigos. Recordações tão amareladas e cheias de traças, livros coloridos, brinquedos de uma infância despreocupada.

Só agora vi que ser criança era tão difícil quanto ser adulto. A única diferença é que conseguíamos nos livrar de nossos demônios de maneiras mais simples. Mais sábias.

O medo de dormir no escuro: curado com um ursinho de pelúcia chamado Azul. A solidão de chegar à escola e não ter amigos: conhecer as “más influências” da sua vida enquanto mata aula.

Agora, depois de correr tantos anos, vejo que a garotinha do passado sabia mais do que aparentava. Lendo os pensamentos no caderno de espiral vi que ela já sabia:

“I’m Just a little girl

Who haven’t learned how to feel”.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Fragmentos literários

Estamos numa era de mulheres fáceis, frágeis e descartáveis. E os garotos… um bando de predadores, mamíferos no cio que desconhecem a beleza de amar. E elas caem e esse ciclo podre se alimenta. Bando de tolos!

Desgraça desenfreada. Quanta vida ligada no piloto automático.

Não ser amado é falta de sorte, mas não amar é a própria infelicidade.

Albert Camus

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Ausência de mim mesma



Tem horas que engano a mim mesma. A mentira é tão forte e presente que se torna uma verdade. O incerto futuro se torna otimista e o sentimento de culpa se esvai.
Nesses preciosos momentos, em que me afogo em minha própria existência, consigo sentir relances de felicidade. Ninguém grita, se decepciona ou me coloca sob análise nestes minutos, segundos e centésimos.
Só sei que as pessoas estão erradas: a verdade não liberta, desconstrói. Ser forte o suficiente para reconstruir o que foi despedaçado não é para qualquer um. Só de pensar no assunto já me sinto como um daqueles poetas existencialistas, acreditando que a cada dia vamos morrendo um pouco mais. Ao fantasiar com Camus só consigo me ver caindo, com um leve sorriso, do sétimo andar de algum prédio histórico, ou talvez, empurrando algumas pílulas coloridas garganta abaixo com uma taça de vinho chileno.
Coragem para reconstruir o que pode ser destruído não está ao alcance de minhas mãos. Eu nunca a encontro. Seja em vícios, em festas, em amigos ou desconhecidos, ela nunca está. Por isso sigo vivendo nos momentos embrionários, nas mentiras sinceras que me colocam no devido lugar.
A cada dia, o meu relógio faz um novo rasgo no tempo e me pego sentindo a conformidade irresistível das coisas que já são familiares. Mantenho os pés longe de parapeitos e janelas. Mesmo sabendo que cada centímetro percorrido em direção da conformidade me deixa mais ausente de mim mesma.
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* A foto neste post é uma reprodução da pintura "Suicide note", de Noredin Morgan

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

A Oferta

"Bad Boy", uma pintura de Eric Fischl


Durmo pensando na beleza de teus olhos fechados
O descanso a meu lado que tanto ostentas,
Inebria meu órgão pulsante

Dele você se alimenta,
Corrói,
Comprimi,
Por vezes pisa
Acarinha com doces e selvagens beijos

Pois que assim seja,
Me entrego com o mais nobre dos gestos
Te cubro com meus lençóis,
Te aqueço com abraços
E afetos de quem parou de procurar na noite por companhia

O calor do amanhecer
Desmascara atos antes guardados em mim
Escondidos para me proteger

O órgão inquieto,
Ensangüentado e pulsante
Fica despido a teu lado entre os travesseiros brancos
Nem em minhas mãos se acalma

Meu amor,
Meu coração aqui ofereço