quarta-feira, 24 de novembro de 2010

O Salto


De tarde eu me lembro do teu rosto.
A pele cálida.
Na boca, um leve sorriso.
E olhos que contam toda a nossa história.

Aos nossos pés, uma cidade que estamos prontas pra abandonar.
Deixar para trás os prédios que nos vigiam à noite,
O cheiro que não nos deixa dormir,
A ignorância que atraca em estranhos e povoa tantas bocas.

Naquela tarde, a cidade não mais incomodava.
Do alto, ninguém consegue reprimir, muito menos magoar.
O parque, que agora só causa tristeza, nunca mais vai embora.

O momento na roda gigante partiu com você.
Para trás, só ficaram um par de sapatilhas azuis,
Óculos de sol
E lembranças entranhadas em um coração que não queria mais sentir.

Se me conhecias de verdade, agora é impossível saber.
Quando você pulou
Levou contigo todas as promessas.

Só esqueceu de mim.




segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Operário

Quadro "Head of a worker", de Andrzej Feliks Szumigaj



A náusea é só o que resta depois do beijo.

A ânsia de vômito,
A dor de cabeça intensa,
A vontade de fumar um cigarro e sair correndo na rua,
Ir embora sentindo saudade da falta de sentimento travestido de prazer.

Como se fosse troca de bens preciosos em pleno prostíbulo
Eu provo um pouco de ti,
Tu saboreias um pouco de mim,
Escambo de corpos, cabelos e respiração ofegante.

A falta é o que mais completa nesta noite.
O nada sacia.
O vazio mata a fome quando não sabemos nem o que significa amar.
O que é amar senão ser subjugado ou subjugar.

Não sei.
Ninguém aprende a sentir.
Aqui no formigueiro todos vivem na escuridão.

domingo, 21 de novembro de 2010

O Medo

Às vezes penso que vou ficar só.
Eu tenho medo de muitas coisas.
De me machucar.
De morrer.
De não amar de forma inconseqüente.
De envelhecer e descobrir que não vivi.
Mas o que mais me implica medo é a solidão.
Viver não é só respirar.
Viver não é só mudar.
Morrer não é o oposto de viver.
Quem é só não vive.