quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Ausência de mim mesma



Tem horas que engano a mim mesma. A mentira é tão forte e presente que se torna uma verdade. O incerto futuro se torna otimista e o sentimento de culpa se esvai.
Nesses preciosos momentos, em que me afogo em minha própria existência, consigo sentir relances de felicidade. Ninguém grita, se decepciona ou me coloca sob análise nestes minutos, segundos e centésimos.
Só sei que as pessoas estão erradas: a verdade não liberta, desconstrói. Ser forte o suficiente para reconstruir o que foi despedaçado não é para qualquer um. Só de pensar no assunto já me sinto como um daqueles poetas existencialistas, acreditando que a cada dia vamos morrendo um pouco mais. Ao fantasiar com Camus só consigo me ver caindo, com um leve sorriso, do sétimo andar de algum prédio histórico, ou talvez, empurrando algumas pílulas coloridas garganta abaixo com uma taça de vinho chileno.
Coragem para reconstruir o que pode ser destruído não está ao alcance de minhas mãos. Eu nunca a encontro. Seja em vícios, em festas, em amigos ou desconhecidos, ela nunca está. Por isso sigo vivendo nos momentos embrionários, nas mentiras sinceras que me colocam no devido lugar.
A cada dia, o meu relógio faz um novo rasgo no tempo e me pego sentindo a conformidade irresistível das coisas que já são familiares. Mantenho os pés longe de parapeitos e janelas. Mesmo sabendo que cada centímetro percorrido em direção da conformidade me deixa mais ausente de mim mesma.
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* A foto neste post é uma reprodução da pintura "Suicide note", de Noredin Morgan

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