segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

A Atriz




Tantas faces para um só rosto
Por vezes, insiste em exibir sobrancelhas grossas,
Em outras ocasiões prefere-as finas,
Bem encorpadas
Tudo para alimentar um olhar
Que pode render até o mais cínico dos seres

Tantos Eus em apenas um corpo
Inúmeras peles cobrindo o mesmo rosto
Cada epitélio uma realidade transformada em ficção
Tu és a mais bela e mais horrenda de todas as criaturas que já vi

Duplicidade
Ambigüidades que te fazem esquecer quem és
O nome impresso na certidão,
Já não mais reconheces,
Letras garrafais em papéis marcados pelo tempo
Símbolos que não descrevem mais aquele rosto de tantas fisionomias

Nem o vestido vermelho,
Nem a peruca,
Muito menos a pintura ostentada nos lábios
Podem disfarçar em minha mente quem certa vez foi

O que você foi
E o que nunca virá a ser
Tudo guardado apenas no porão de minhas lembranças

Neste quarto escuro,
O teu Eu fica disposto
E empoeirado, espera um dia ser vestido novamente por ti

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